terça-feira, 17 de maio de 2011

Para onde vai o ensino?



É comum se ouvir falar que o ensino não é mais o mesmo. Mas será que isso é reversível?
Estive refletindo durante esses últimos anos sobre a dramática mudança do mundo em todas as áreas, principalmente na Ciência, e cheguei à conclusão de que é a Ciência mesmo que vem construindo e destruindo coisas. O seu avanço é de tão estupenda rapidez, que ainda não conseguimos nos enquadrar, e, se não corrermos atrás da máquina, corremos o risco de parar no tempo.

 
Então, reflitamos juntos: como fomos criados nós, os quarentões e cinquentões - e talvez até alguns trintões? Jogando bola, brincando de bonecas, bolinha de gude, panelinhas, comidinhas, amarelinha, fita (o diabo quer fita? Que cor?),  meia, meia, meia, um, dois, três; mandrake, meia. Está rindo? Então você é velho. Mas não tínhamos todo o tempo do mundo para brincar, tínhamos que estudar também, tínhamos horários; os pais nos exigiam. Quando precisávamos fazer um trabalho para a escola, lá estávamos nós na biblioteca pública fazendo uma pesquisa ou na casa do vizinho que tinha uma Barsa ou a Enciclopédia Britânica. Comprávamos o “papel almaço” e dê-lhe caneta até criar um calo no dedo médio. Aprender datilografia era o nosso sonho, e os guris queriam  arrumar um emprego no Banco do Brasil, coisa e tal. Eram horas de leitura, muita redação (a gente chamava de “composição”), muito ditado e uma “sabatina” (que hoje é uma “prova” - sei lá se ainda é; agora tem o tal “simulado”. Naquela época ninguém “simulava” nada; quando a gente chegava ao colégio, tinha uma sabatina surpresa. Pior era a sabatina oral! Então estudávamos tudo. Líamos tudo. Guardávamos as datas da História, os personagens. Era o nosso “mundinho”. Mas sabíamos escrever.
E hoje, como são criados nossos jovens?
Houve uma revolução da Psicologia. Os psicólogos passaram a dizer que não se impõe, não se bate, não se insiste, todos temos direitos, privacidade, liberdade, tudo dentro do bom senso. Mas quem tem bom senso? Um guri de 15 anos? O bom senso dele não igual ao meu. Ou é igual ao seu?
Voltando a fita...
Já ouvi falar que o cara que inventou a pílula anticoncepcional o fez por uma causa maravilhosa, que foi a de dar liberdade aos casais para que eles não procriassem demais, pois isso fazia mal ao bolso.  E isso é verdade até hoje. Só que ele não imaginou que a filha dele aproveitaria a pílula para ter liberdade sexual, e assim todas as outras filhas de todos os outros pais. Isso acontece; aconteceu com o cara que trabalhou pela primeira vez a energia nuclear para o bem e “arrasou” (para não dizer outra palavra) o nosso futuro.
Então tá: a Ciência para o bem e para o mal.
“Revoltando” a fita...
E o ensino do qual eu comecei a falar?
A televisão no início só funcionava algumas horas diárias. Dia a dia, ela foi se expandindo e nos  tirando da rua, e começamos a ver o mundo um pouco mais de perto, o mundo começou a chegar até nós – já aposentamos alguns livros; agora tem novela e filme, estamos mais em casa, mas ainda vamos à aula com algumas novidades.
Então essa transição revelou alguns rebeldes, aqueles que acharam que a liberdade estava acima de tudo. Ao invés de nos sentirmos livres para procurar saber mais, saímos às ruas para angariar adeptos à “liberdade”. Hippies e falsos hippies (ripongas). Os verdadeiros largaram tudo, casa, família, colégio, escovas de dentes e banho, foram vender bolsa de couro cru e fumar cannabis. Os “ripongas” saíram para a rua e, de casa até o colégio, se diziam livres, usavam tênis sujos (tinha que ser sujo, de preferência rasgado), calça jeans desbotada com uma boca enorme, uma “nesga” do lado de outra cor e uma parafernália de buttons, botões, colares, pulseiras, uma bolsa de pano que começava no ombro e terminava quase arrastando no chão, mas voltavam para casa à tardinha, tomavam banho e guardavam os tênis sujos para amanhã. Ah, ah, ah, eu fui uma riponga. Os ripongas mentiam que fumavam baseado, mas fumavam minister, alguns colocavam melhoral infantil dentro para “dar um barato” – que ilusão! Vivíamos numa mentira, assim como a política falsa libertária. Os “homens” ainda estavam lá em cima cuidando o que a gente fazia, não se podia “depurar” fora do “bispote”. A tá, né? Vai procurar no dicionário.
Retrospectiva rapidinha:
E daí veio o gravador caseiro, a TV colorida, a vitrolinha, o três em um; a máquina elétrica, o freezer; o telefone já existia, mas só agora você pôde comprar um; o cabeça de batata, o aquaplay, a AIDS, o atari, os generais caíram, e subiram os civis, o Super Nintendo, e, a essas alturas, trouxeram o Brizola de volta, você nem joga, você já parou no aquaplay e já está usando o “cérebro eletrônico”, o computador lá da repartição, que era uma tela de TV acoplada à máquina elétrica; passou o cometa Halley, e você estava dormindo na hora e vai ter que esperar mais 75 anos. Sim, vai só. Você não conseguiu jogar o joguinho que seu filho jogou, mas aos poucos colocaram o PC na sua frente e você ficou rezando para se aposentar, mas não deu tempo, teve que engolir o computador e suas atualizações. Como se não bastasse, o mercado se encheu de computadores e só os outros podiam ter, até que um dia você trouxe um para a sua casa e acabou a sua liberdade, daí sim, já conquistada, mas que você nem percebeu, e agora já era tarde. “Já era”, diria uma riponga. Aí o seu filho, que já estava jogando Play Station 2, deu o joguinho pro primo, jogou a bicicleta na garagem e se tornou um escravo da Microsoft.
E o ensino, do que eu estava falando?
Sim, sinto muito ter que dizer que muito do que você estudou caiu por terra, está à disposição na Internet para crianças de quatro anos. Agora, quando você quiser provar que sabe alguma coisa, vai ter de entrar no latim, na origem das palavras, ir a fundo - ou não, como diria Caetano Veloso. Os seres que fuçam nos computadores hoje são mais jovens do que você, escrevem muito mal, e você já sabe há horas o que eles estão catando na Internet. Entende o que eu quero dizer? Você perdeu a elegância, digamos, perdeu aquela honra de ter estudado feito maluco. Contente-se com o fato de você ainda ter cérebro mais abrangente, que tem noções sobre tudo e é maleável, porque a maioria dos autômatos que se encontram na frente da Internet hoje só “apitam” sobre informática e estão catando lá “os seus” conhecimentos, os que a sua turma colocou lá, ditou para eles colocarem lá. Só que eles escrevem errado, porque não prestaram atenção à aula de Português e estão mudando a gramática, inventaram o “internetês” e falam por meio de sinais.
Perceberam?
Os sinais estão de volta. O homem das cavernas começou com os sinais. Só que hoje, ao invés de o homem dar com o tacape na cabeça da mulher e levá-la para a moita, ele só perguntam “blz?” e vão para o shopping comer Mac’algumacoisa.  Estou quase jurando para você que a única coisa que tira o seu filho hoje da frente do PC é o shopping, mas não sei dizer o que vai levar mais o seu dinheiro. Se ele não exige muito de você e sabe se divertir sem grana, é até preferível que ele vá para o shopping mesmo, pelo menos ele vai precisar caminhar até lá, coisa que ele já não faz muito. Aproveite enquanto ele estiver no shopping para tirar todos aqueles copos e pratos que estão ao lado do PC dele, passar o aspirador no quarto dele e olhar se nas gavetas não há nada suspeito. Vai me dizer que você nunca fez isso? “Temos que respeitar as individualidades” uma ova! Você é responsável por ele por enquanto, só não deixa saber que você fez isso, mas estou dizendo: faz! E mais: o shopping pode ser até uma boa, mas aconselhe seu filho desde pequeno a não ir a lanchonetes cujos nomes comecem com “M” grandão, recupere nele o sentido de “liberdade” que você tanto buscou e que hoje ele não se dá conta porque nunca viveu no seu tempo. Ensine a ele que um dia as coisas foram piores, porque não queríamos ser “colônia” de ninguém. Não sei se isso vai adiantar, confesso, porque, pelo que sabemos, o mundo cumpre um ciclo, e começa tudo de novo. O mundo segue o mesmo ciclo da vestimenta: é o nu, o tapado com folha de parreira, com pele de animais, com saia comprida, com saia média, com saia curta, com saia mini, com saia micro, com biquíni, com tanga, topless, nu de novo e começa tudo outra vez.
Sandrasselva.


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Bem-Vindo tem hífen

Contador desde 26.03.2012

Olá! Estou trabalhando, pode entrar. Estou escrevendo um romance.

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